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sexta-feira, 16 de abril de 2010

MINHA VIDA

Três paixões, simples, mas irresistivelmente fortes, governaram minha vida: o desejo imenso do amor, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão pelo sofrimento da humanidade.Essas paixões, como os fortes ventos, levaram-me de um lado para outro, em caminhos caprichosos, para além de um profundo oceano de angústias, chegando à beira do verdadeiro desespero.
Primeiro busquei o amor, que traz o êxtase – êxtase tão grande que sacrificaria o resto de minha vida por umas poucas horas desta alegria.Procurei-o, também, porque abranda a solidão – aquela terrível solidão em que uma consciência horrorizada observava. Da margem do mundo, o insondável e frio abismo sem vida.Procurei-o, finalmente, porque na união do amor vi, em mística miniatura, a visão prefigurada do paraíso que santos e poetas imaginaram.Isso foi o que procurei e, e,borá pudesse parecer bom demais para a vida humana, foi o que encontrei.
Com igual paixão busquei o conhecimento.Desejei compreender os corações dos homens.Desejei saber por que as estrelas brilham.E tentei apreender a força pitagórica pela qual o número se mantém acima do fluxo.Um pouco disso, não muito, encontrei.
Amor e conhecimento, até onde foram possíveis, conduziram-me aos caminhos do paraíso.Mas a compaixão sempre me trouxe de volta à Terra.Ecos de gritos de dor reverberam em meu coração.Crianças famintas, vítimas torturadas por opressores, velhos desprotegidos – odiosa carga para seus filhos – e o mundo inteiro da solidão, pobreza e dor transformaram em arremedo o que a vida humana poderia ser.Anseio ardentemente aliviar o mal, mas não posso, e também sofro.
Isso foi minha vida.Achei-a digna de ser vivida e vivê-la-ia de novo com a maior alegria se a oportunidade me fosse oferecida.

(RUSSEL, Bertrand, revista mensal de cultura, enciclopédia Bloch, n. 53, set. 1971, p.83)